terça-feira, 26 de outubro de 2010

We are not starving (ou sobre taxas)

Tenho montes de coisas prá fazer, mas a indignação me trouxe aqui.

De uns tempos prá cá tenho recebido mensagens constantes de uma empresa de tradução de Nova Iorque, que busca rápida e desesperadamente um tradutor ou revisor pelo amor de deus para uma tarefa de urgência. Seria totalmente normal, como vocês sabem, se a (não) dita empresa não se recusasse a informar as taxas a ser pagas pelo trabalho.

Ora, ou bem se acorda uma taxa prá ser usada em todos os trabalhos, ou bem se informa a taxa daquele trabalho específico, essa é a prática logicamente razoável. Alguém por acaso chama uma faxineira sem dizer quanto vai pagar a ela?

Como a mensagem é coletiva (ou "em massa", essa tradução que parece ter a ver com macarrão), só posso concluir que a ideia é que algum tradutor desesperado por trabalho tope uma coisa dessas, imaginando que será razoável (ou minimamente) pago e/ou que poderá começar a trabalhar prá tal empresa. Mas só alguém bem bobinho pode pensar assim, porque óbvio está que a ideia é pegar o primeiro tradutor desesperado por trabalho e pagar a pior taxa possível.

Eu poderia ignorar essas mensagens, seria provavelmente mais lucrativo, já que palavra é dinheiro, como sabemos (ó, acabei de receber outra!), mas acho que cada um tem sua responsabilidade quando uma classe de profissionais passa a participar de leilões por mão-de-obra mais barata a cada dia (e isso fora dos sites de leilões de preços).

Daí que numa das primeiras vezes respondi isso:

Hello K. and Cete,

Thank you for your very kind e-mail, the instructions seem to be quite clear.

The problem is that we have never agreed to translation/review rates, and xixixiCompany is getting well known in our market for using very low fees. I have been using a proofreading/editing rate of USD xixixi per word, can you please let me know if this is acceptable for your company? If so, we will be able to start a parnership and I can help with this task. Please let me know.

Agora já colo direto essa frase, seguida de Thanks and best regards:

I am sorry, but I will not be able to accept any job from xixixiCompany if you never inform what the translation rates to be used are (nor have any interest in talking about it). This is generally considered a bad practice.

Se querem me mandar spam de leilão, pelo menos vão ter que receber o meu também. E acho que todo mundo que recebe essas mensagens deveria criar uma linhazinha prá mandar prá eles também.

Em tempo, a referida xixixiCompany está entre as 10 primeiras empresas da lista das maiores do mundo e entre as 5 da lista das que crescem mais rápido. Assim é molé, né não?

domingo, 17 de outubro de 2010

Cocaína, DST e outros perigos

Como não tenho tido tempo de escrever, colo aí os comentários sobre o artiguinho lá da Digital, primeiro porque tem um elogio da Dani, e eu sou vaidosa:

1. danielle marins
04/10/2010 - 14h 40m
Adorei, Claudinha! O bom humor e a competencia de sempre.
Dani Soares

Segundo porque achei perigosa essa coisa de encontrar cocaína que o Andre conta:

2. Andre Luiz Duarte de Queiroz
04/10/2010 - 11h 57m
Enquanto as traduções automáticas não incluírem algum mecanismo de análise semântica minimamente eficiente, esse tipo de bobagem das traduções automáticas vai continuar. Eu mesmo, faço uso constante de traduções automáticas on-line, e sempre tenho que conferir que 'met coke' (coque metalúrgico) não seja traduzido como "encontrar cocaína"!

Falando nisso e também porque hoje começou nosso horário de verão, lembrei que outra coisa perigosa é a tal da DST, tradução que encontrei uma vez. O original também era DST, mas tinha a explicação entre parênteses "Daylight Saving Time".

Verdade seja dita: não sei se a DST veio da máquina ou do editor (eu estava pós-editando o arquivo e sou limpinha): à máquina o que é da máquina, e à pessoa o que é dela. O fato é que a Doença Sexualmente Transmissível estava lá, totalmente consistente e ameaçando os arquivos todos da megaempresa de tecnologia dona deles.

Nesse caso, seria preferível ter deixado o "Luz do Dia Salva Tempo" entre parênteses, que parece nome de igreja, mas... Ih, nem sei, hoje em dia a gente nem sabe o que é mais perigoso.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Testando o Google Tradutor (versão compacta publicada na Digital)

Quem não teve tempo e paciência (ativos cada vez mais raros) prá ler a versão maiorzinha que botei aqui no mês passado, pode ver nesse link a versão compacta: http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2010/10/04/testando-google-tradutor-922694261.asp

Gostei que não mexeram em quase nada, quase que  mesmo em todos os meus "prá", que viraram "para", como eu imaginava... Bom, eu gosto do "prá" e do "pro", usados por todo mundo que fala português e devidamente registrados no Houaiss, como os dicionários devem fazer. Colo , prá quem não acredita:

pro
1
contração
Uso: informal.
da prep. para e o artigo o
Ex.: <este ônibus vai p. centro> <telefonar p. Alberto>
2 da prep. para e o pronome demonstrativo o ('aquele', 'aquilo'); para aquele, para aquilo
Ex.: <deram o prêmio p. que fez a frase mais original> <não ligue p. que ele falou>

pra
preposição
Uso: informal.
m.q. para
Ex.: <vem p. , menino> <esse presente é p. mim?>

prá

preposição
Uso: informal.
m.q. para
Ex.: <vem p. , menino> <esse presente é p. mim?>

Mas também entendo que, prá evitar que digam que a língua está sendo destruída, como se a contração preposicional degenerasse mais do que a eleição do Tiririca, e como se a evolução não fosse inevitável e peremptória na boca e no papel todos os dias, se opte pelo formal em vez de pelo informal (embora o tom da publicação seja totalmente informal).

Como dizia a minha bisavó: mais vale um gosto que um desgosto e o que é de gosto regala a vida. E assim não gritam os possíveis indignados, que indignação é igual ao que se sabe, cada um tem a sua.