Estava eu hoje no transport, coisa que não me transporta prá lugar nenhum, tentando pelo menos endurecer algumas celulites, quando um amigo veio me “contar” sobre o livro da professora que diz que não tem certo nem errado e que cada um pode falar como quiser... Ah, não, até ali?
Como se trata de assunto de linguista, sociolinguista, dialetologista, etc., quem divulgou a “notícia” poderia pelo menos ter pedido ajuda aos universitários. Fiquei pensando nos resumos das pesquisas da Nature que leio no jornal de vez em quando e senti medo do que andam dizendo que os especialistas dizem.
Dizer que criança não pode ouvir nem discutir sobre variação linguística porque vai aprender a falar errado, que o tal livro “ensina a falar errado”, me lembra muito a ideia de que criança também não pode ouvir nem discutir sobre homofobia porque vai virar gay. Nananinanão, escola não é lugar disso, é lugar de aprender só o que é certo, isso de contar que existe gente por aí que diz “nóis pega o peixe” e que essas pessoas, a menos que estejam falando com pescadores que também falam assim, sofrem preconceito é profundamente prejudicial — Bem, isso me parece Bolsonaro puro!
Como a grande maioria que está repetindo o que não leu e não entendeu, eu também não li o livro, mas não por acaso sei do que se trata e, santa falta de noção, ninguém pretende ensinar a falar “nóis pega o peixe”, até porque isso as pessoas já sabem!
Mas que a língua varia é fato e não adianta espernear, discursar ou mandar prender, ou alguém escreve em língua culta formal nos feicebuques e orcutes por aí? Não é preciso ser sociólogo para saber o que é um fato social e que fatos sociais têm consequências.
Daí que explicar que quem fala “nóis pega o peixe” sofre preconceito NÃO pode, logicamente, gerar uma vontade incontrolável e perniciosa de falar “nóis pega o peixe”, porque sofrer preconceito não é uma coisa legal, o que até as crianças são capazes de entender. E "sofre preconceito" significa que, se você falar ou escrever assim na frente de gente que não fala nem escreve assim, tipo aquela bonitinha que senta ali na frente ou o sujeito que vai escolher quem entra na vaga que você quer, você provavelmente vai ser tratado como lixo, ou pior. Coisa que, pela lógica, nem mesmo a criança mais burrinha vai querer.
Daí que explicar que quem fala “nóis pega o peixe” sofre preconceito NÃO pode, logicamente, gerar uma vontade incontrolável e perniciosa de falar “nóis pega o peixe”, porque sofrer preconceito não é uma coisa legal, o que até as crianças são capazes de entender. E "sofre preconceito" significa que, se você falar ou escrever assim na frente de gente que não fala nem escreve assim, tipo aquela bonitinha que senta ali na frente ou o sujeito que vai escolher quem entra na vaga que você quer, você provavelmente vai ser tratado como lixo, ou pior. Coisa que, pela lógica, nem mesmo a criança mais burrinha vai querer.
Que não se deve esculachar ninguém por falar “nóis pega o peixe” ou por ter comportamento sexual “diferente” também me parece coisa razoável de se ensinar. Até porque, quando esculachada, a tendência da vítima é não querer mais voltar prá escola. Ou voltar e, sei lá, assassinar uma dúzia.
Mas claro que isso é só a minha opinião. De toda forma, achei interessante saber que esse país, além de uma população de médicos, advogados e técnicos de futebol, agora também tem um linguista em cada esquina. O que talvez até seja bom, porque qualquer discussão é sempre melhor do que nenhuma.
Pronto, agora já podem sair por aí dizendo que tem uma professora de português falando que os homofóbicos não sabem fazer concordância verbal. E que esse negócio de falar sobre língua com criança e professores mal pagos só pode acabar em pedofilia.