sábado, 28 de agosto de 2010

Certifique-se de que tudo seja incerto (ou não)

Como essa pergunta voltou prá mim essa semana de novo, colo aí a dúvida e a resposta que mandei prá uma amiga tradutora há um tempo. Daí que, na próxima vez que em ela vier, só preciso colar o link prá responder.

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Olá, Claudia

Tudo bom?

Surgiu uma dúvida entre alguns tradutores e pensei em você para tirar essa dúvida. Em frases iniciadas por "certifique-se de que", como fica o verbo? No subjuntivo?

Exemplo: Certifique-se de que a máquina esteja ligada ou está ligada? Ambos estão certos? Encontrei 2 sites que afirmam que o subjuntivo está errado... e eu jurava que essa era a forma correta.

Uma luz, pls. Obrigada desde já.

bjs

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Oi, Izabel!

O subjuntivo é uma das coisas mais difíceis justamente porque depende de certas nuances (ou nuanças!) do significado. Tem casos em que temos a opção de usar o subjuntivo e também o indicativo, dependendo do grau de certeza que queiramos dar ao enunciado.

Esta frase a seguir é um exemplo em que o o “certificar-se” é usado com caráter mais afirmativo do que duvidoso, daí a opção pelo indicativo:
"Para nos certificarmos de que a oração é substantiva, podemos substituí-la pelo termo "isso"(isto, aquilo) ou "coisa", substituindo a expressão que seria representada por um substantivo e com uma das funções sintáticas apontadas acima."

Neste caso tb. há intensificação da certeza:
Após certificar-se de que essa resposta é definitiva, faça as marcações na FOLHA DE...”

Mas há muitos e muitos casos em que quem escreve opta por colocar uma pitada de incerteza no que está sendo dito. Só uma análise caso a caso pode identificar o motivo dessa opção (na maioria das vezes, muito intuitiva de quem escreve). Colo aí alguns exemplos caçados na Internet:

"... precisa também certificar-se de que seja assegurada uma oportunidade” – sugere-se que há a possibilidade de que essa oportunidade não seja assegurada."

"... reposicione as formas ou ajuste as configurações do desenho para certificar-se de que seja impresso corretamente – sugere-se que há a possibilidade de que algo não seja impresso corretamente."

"Ao comprar uma memória, o mais importante é certificar-se de que seja compatível com o sistema em que vai ser colocada” – sugere-se que há possibilidade de incompatibilidade."

"A primeira dica é certificar-se de que seja realmente um médico (quase um absurdo... mas esteticistas, fisioterapeutas, enfermeiros andam se passando por ...” – o próprio texto explica que há a possibilidade de outros profissionais se passarem por médicos."

Sintetizando: de acordo com esse critério de sugestão de – certeza / + certeza, em “Certifique-se de que a máquina esteja ligada/está ligada”, ambas as formas estão certas (dependendo só do grau de certeza que se queira adotar).

Mas, se eu for escrever, prefiro mesmo é “Verifique se a máquina está ligada”! A informação fica muito mais direta, objetiva e precisa em termos comunicativos.

Bem, espero ter ajudado. : P

Bjos!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Um caso que grita por si (ou Como perder clientes com a tradução automática)

Se você está avaliando a possibilidade de traduzir textos para sua empresa com a tecnologia de tradução automática do Google ou é tradutor com medo de perder seus projetos, dá uma olhadinha no texto a seguir, que achei por acaso na Internet outro dia e me encantei! Não tenho o original, mas quem ler vai ver que nem precisa.

No fim da página tem o logotipo: 'Article translated by Google Translate'.

[Apesar do olhar high-end, as cortinas de madeira do disconto estão disponíveis. Construído dos tipos mais menos caros de madeira, estas cortinas de madeira do disconto podem muito razoavelmente ser fixadas o preço. São pre-projetada, pre-feito, e pre-cut e não podem ser feitos para requisitar. As cortinas de madeira do disconto vêm em estilos e em opções limitados; entretanto, são tão boa justo quanto cortinas de madeira customized nos termos da qualidade e da durabilidade. A maioria de cortinas de madeira do disconto são feitas da madeira baixa, um tipo da madeira obtido da árvore de Linden. As árvores de Linden são nativas a México, a America do Norte, a Europa, a Japão, e a Ásia. A madeira baixa é popular para a construção cega porque é macio-soft-grained e clara mas forte e durável.

As cortinas de madeira do disconto estão disponíveis em estilos diferentes na base do modelo. Estas são cortinas de madeira mini, cortinas verticais da madeira, cortinas tecidas da madeira, e cortinas de madeira do faux. Fora destes, as cortinas de madeira do faux estão geralmente disponíveis na categoria de madeira das cortinas do disconto. Porque estas cortinas de madeira não são feitas da madeira real, são uma alternativa mais menos cara às cortinas de madeira reais. Entretanto, têm um olhar similar e sentem-no.

As cortinas de madeira do disconto são categorizadas também na base do material usado: cortinas de madeira do ramin e do baixo. A madeira baixa é o mais preferido desde que tem uma grão mais distintiva e é assim mais forte. São também bons para manchar. Têm uma opção do nenhum-furo que permita as cortinas de fazer o quarto realmente escuro. Adicionalmente, o valance 3-inch nestas cortinas é muito decorativo. Ramin é uma alternativa mais barata. Têm um valance 2-inch no alto da janela para esconder os trilhos da cabeça do metal. As cortinas de madeira estão disponíveis em preços diferentes dependendo do tipo de material usado, do tipo do revestimento, as opções fornecidas e assim por diante.

O dinheiro do saving não significa não ter nenhuma escolha. Mesmo as cortinas de madeira do disconto são fornecidas com algumas opções limitadas. Estão também disponível em cores, em formulários, e em máscaras diferentes. As cortinas de madeira do disconto podem ser completamente uma alternativa -- e geralmente caro -- às cortinas reais da madeira.

As cortinas de madeira Info fornecem informação detalhada sobre o costume, o disconto, tecido, e as cortinas da madeira do faux, as.well.as as cortinas mini de madeira, as cortinas verticais de madeira, e mais. As cortinas de madeira Info são o local da irmã da correia fotorreceptora mini das cortinas.]

Artigo Fonte: Messaggiamo.Com
http://www.messaggiamo.com/pt/interior-design/32981-how-to-choose-discount-wood-blinds.html

A foto do Homer gritando é daqui: http://rriscoserrabiscos.blogspot.com/2009/04/edvard-munch-o-grito.html

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Máquina do tempo

No fim dos anos 80 do século passado, quem não tinha carro só saía do Fundão de carona. Bom, tinha quem saísse de 634, também chamado de volta do mundo, mas prá chegar em 50 minutos na Praia Vermelha (no Campus Pinel, como a gente dizia naquela época sem culpa), na Lagoa ou na Tijuca, a saída era só a carona. E como o povo da Engenharia, geralmente do sexo masculino, ia comer no nosso bandejão (não que o nosso fosse melhor que o deles), o da Letras, geralmente do sexo feminino, cruzava as pistas no sentido contrário para pegar carona na saída do megaprédio deles.

Tanto quanto a carona, o papinho entre motoristas e caroneiros era uma instituição, e geralmente rolava um choque cultural entre as moças da Letras e os meninos da Engenharia. Não era à toa que cada escola ficava de um lado da rua: nossos mundos eram em galáxias diferentes.

Uma vez unzinho me perguntou por que eu estava na Letras e o que pretendia fazer no futuro (ele queria saber como eu ia pagar minhas contas). Bem, eu gostava de ler e escrever, adorava minhas professoras de inglês, mas, como não soubesse responder à dúvida implícita, disse que talvez viesse a trabalhar com tradução ou algo assim. Ele, que já sabia como seria o futuro, respondeu rindo que dali a algum tempo não iam existir mais tradutores, porque máquinas programadas prá converter textos entre todas as línguas (e mais as que fossem inventadas) iriam assumir esse tipo de trabalho.

Respondi singelamente (como a gente é singela quando está de carona!) que achava difícil que máquinas viessem a ter a habilidade de compreensão (prá traduzir não é preciso entender o que está escrito?), porque colocar as palavras em fila não cria um texto. Ele pareceu não se convencer e seguimos nosso trajeto, na Brasil e na vida.

Mais de vinte anos e muitos quilômetros rodados e voados depois, rio quando leio o que andam prometendo por aí: traduções automáticas, eliminação de custos com tradução, enfim, a velha ideia do robô está mais viva do que nunca.

Mas com o tradutor do Google, “reconhecido como o melhor entre os sistemas comerciais”, segundo David Yarowsky, professor de ciência da computação da Johns Hopkins citado naquela matéria da Veja (http://veja.abril.com.br/050510/lingua-google-p-122.shtml), uma informação simples como a de que “40 partidos estão inscritos para participar da eleição” (em Myanmar, conforme matéria do NY Times de hoje) vira “40 partidos se registraram para ser executado", o que sugere que os candidatos vão encarar um grande paredon.

Como participante das várias etapas de projetos de tradução de máquina (a maioria feita por profissionais de tradução de carne e osso), minha vontade é de exclamar: fala sério!

Isso porque a vantagem financeira da tecnologia para os desenvolvedores, por enquanto, é de origem exclusivamente psicomercadológica (ou perversocapitalista): a derrubada das taxas de tradutores que temem ficar sem trabalho.

Só pra dar uma ideia: com todo o investimento, toda a tecnologia e todos os esforços, a máquina de tradução ainda está mais ou menos no estágio de desenvolvimento da máquina do tempo do clássico de H. G. Wells.

ps: essa é minha resposta ao convite feito pela Maíra Monteiro, que levantou belamente o assunto na postagem dela dessa semana (O mito da tradução automática na Veja) no blog da LocHouse.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Última flor da Lácio

Prá saber o que a Lácio faz, é só entrar ali em O que é a Lácio?, que eu não vou falar tudo de novo.

Esse blog é o playground da firma: a ideia é fazer aqui o que não dá pra fazer no espaço oficial, como fofocas da indústria, reclamações e campanhas (gente, já chega de baixar taxas, né?). Acho que vamos acabar falando de terminologia, memórias de tradução e ansiedades tradutórias. Esse espaço vai ser tipo a cozinha da Lácio, aquele lugarzinho superdiscreto prá onde a gente foge prá fazer os comentários relevantes da festa. Por falar nisso: não pretendo escrever nada em inglês nem em outra lengua aqui, que na hora do recreio só quero português.

E, claro, clientes também são muito bem-vindos aqui!

Bem, a casa está aberta prá quem quiser, quem vier prá tratar de assunto linguístico, até porque praticamente todo assunto é linguístico, ou é impressão minha?