quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Soneto de fim de férias (mas já?)



o barquinho vai
a tardinha ainda não cai
a carona nem tarda nem falha
o nome do dijei é Charles
Lise dá bom dia a formiga
ideias na cabeça sem câmera na mão
meu pé é havaiano, mané da Ilha é elogio
relógio certo é caipiúva de limão

alguém me disse que ali era frio
Moçambique é doce, mas não é Mole não
a Azul chama lanche de snack
a trilha segue but I'm back


se queix, queix
se não queix, diz

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Hora da happy hour

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revisar é uma repetição repetitiva

mas também uma diversão divertida

o que importa é que há um movimento móvel acontecendo



domingo, 31 de julho de 2011

Podendo complicar, por que simplificar?

“O ministro recusou-se a explicar quem pagou a estadia, mas um advogado de suas relações confirmou que patrocinou as diárias dos amigos que convidou para seu casamento” 

O parágrafo acima, publicado hoje por colunista do Globo, suscita as seguintes hipóteses:

(   ) O advogado pagou as diárias dos amigos do ministro convidados para o casamento... de quem?

(   ) O advogado pagou as diárias dos amigos do ministro com o dinheiro de outra pessoa (talvez do próprio ministro?)

(   ) O advogado patrocinou as diárias dos amigos que convidou para seu próprio casamento.

As alternativas acima, erradas as três, passaram por minha cabeça de pobre leitora diante dessa frase truncada que, claro, o contexto haveria de esclarecer. Mas a contorção não seria necessária se a redação fosse tipo assim: “O ministro recusou-se a explicar quem pagou a estadia, mas confirmou que patrocinou as diárias dos amigos que convidou para seu casamento, conforme declarou seu advogado".


 A chave do imblóglio é um segredo misterioso: só se oculta um sujeito quando ele é igual ao da oração imediatamente anterior (ou posterior). Se o sujeito oculto (que no caso é um sujeito sequestrado) não for igual ao da oração imediatamente antes ou depois, o caos se instala. E não se sabe quem patrocinou as diárias dos amigos de quem no casamento de quem, até porque a promiscuidade não é rara nas questões matrimoniais e pecuniárias.

O interessante é que quem justifica dizendo que ali “o contexto esclarece” – porque nesse país ninguém paga nada com dinheiro alheio nem faz maracutaia desse tipo – não costuma achar o mesmo no caso do "nóis pega o peixe", quando bem claro está quem pega o quê. Mas aí já são outros 500 mil, ou milhões.


Bem que o Gaspari poderia marcar umas aulinhas com Madame Natasha (as de piano talvez não sejam necessárias).

Em tempo (ou não): uma das melhores surpresas de Paraty esse ano foi ter a Heloísa Ramos, a do livro-bomba, na varandinha do café da manhã da pousada todos os dias. Numa das "entrevistas", ela contou que a famigerada estorinha do livro que supostamente pretendia ensinar as crianças a escrever "nóis pega o peixe" começou com uma matéria do ig, cujo jornalista furtou uma foto dela, colocou ao lado da de Erenice Guerra e o resto do lixo já se sabe. Que medo de jornalistas de verdade que acreditam no que leem na internet.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Onde você guarda sua língua?

Estava eu hoje no transport, coisa que não me transporta prá lugar nenhum, tentando pelo menos endurecer algumas celulites, quando um amigo veio me “contar” sobre o livro da professora que diz que não tem certo nem errado e que cada um pode falar como quiser... Ah, não, até ali?


Como se trata de assunto de linguista, sociolinguista, dialetologista, etc., quem divulgou a “notícia” poderia pelo menos ter pedido ajuda aos universitários. Fiquei pensando nos resumos das pesquisas da Nature que leio no jornal de vez em quando e senti medo do que andam dizendo que os especialistas dizem.


Dizer que criança não pode ouvir nem discutir sobre variação linguística porque vai aprender a falar errado, que o tal livro “ensina a falar errado”, me lembra muito a ideia de que criança também não pode ouvir nem discutir sobre homofobia porque vai virar gay. Nananinanão, escola não é lugar disso, é lugar de aprender só o que é certo, isso de contar que existe gente por aí que diz “nóis pega o peixe” e que essas pessoas, a menos que estejam falando com pescadores que também falam assim, sofrem preconceito é profundamente prejudicial — Bem, isso me parece Bolsonaro puro!


Como a grande maioria que está repetindo o que não leu e não entendeu, eu também não li o livro, mas não por acaso sei do que se trata e, santa falta de noção, ninguém pretende ensinar a falar “nóis pega o peixe”, até porque isso as pessoas já sabem!

Mas que a língua varia é fato e não adianta espernear, discursar ou mandar prender, ou alguém escreve em língua culta formal nos feicebuques e orcutes por aí? Não é preciso ser sociólogo para saber o que é um fato social e que fatos sociais têm consequências.

Daí que explicar que quem fala “nóis pega o peixe” sofre preconceito NÃO pode, logicamente, gerar uma vontade incontrolável e perniciosa de falar “nóis pega o peixe”, porque sofrer preconceito não é uma coisa legal, o que até as crianças são capazes de entender. E "sofre preconceito" significa que, se você falar ou escrever assim na frente de gente que não fala nem escreve assim, tipo aquela bonitinha que senta ali na frente ou o sujeito que vai escolher quem entra na vaga que você quer, você provavelmente vai ser tratado como lixo, ou pior. Coisa que, pela lógica, nem mesmo a criança mais burrinha vai querer.


Que não se deve esculachar ninguém por falar “nóis pega o peixe” ou por ter comportamento sexual “diferente” também me parece coisa razoável de se ensinar. Até porque, quando esculachada, a tendência da vítima é não querer mais voltar prá escola. Ou voltar e, sei lá, assassinar uma dúzia.


Mas claro que isso é só a minha opinião. De toda forma, achei interessante saber que esse país, além de uma população de médicos, advogados e técnicos de futebol, agora também tem um linguista em cada esquina. O que talvez até seja bom, porque qualquer discussão é sempre melhor do que nenhuma.


Pronto, agora já podem sair por aí dizendo que tem uma professora de português falando que os homofóbicos não sabem fazer concordância verbal. E que esse negócio de falar sobre língua com criança e professores mal pagos só pode acabar em pedofilia.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O tradutor que come você

Conheço uma tradutora que, depois de um solene “I am sorry”, avisou a um cliente que disse que não aceitaria mais nenhum erro de tradução que ele tinha “unrealistic expectations” (expectativas “fora da realidade”, ou “irrealistas”, ou “irrealísticas”, o que não vem ao caso). Eu gostaria imensamente de ter visto a cara dele, porque é isso mesmo, existem erros de tradução e sempre vão existir, da mesma forma como existem erros na aviação, na pedagogia, na culinária e na construção civil, cada um com seus graus de relevância e consequências.

Mas a atividade de localização de software inventa umas categorias de erro que não se devem a distração, descuido, cansaço, pressa, nem dificuldade de interpretação do original, mas a um esforço deliberado de seguir um padrão, uma norma, que não existe na língua natural, mas só em algumas cabeças, como é o caso de comer o "você" de frases em português.

Existem muitos motivos pra alguém comer você. Um deles é a insólita proibição do uso dessa palavra por alguns clientes, que alegam que a tradução "vai ser usada em Portugal também", como se a única diferença entre as duas línguas fosse o você... 

Tem ainda os clientes que recomendam "evitar" o uso de você, devendo o tradutor usar essa palavra maldita só em última instância. Como se não bastasse, existe a lembrança dos conselhos de professores que condenavam  à forca quem repetisse palavras desnecessariamente. Se somarmos a isso a recomendação estilística de eliminação do sujeito (que ficaria elíptico) quando ele está implícito ou se repete em orações contíguas, está pronto o cenário para um tradutor comer você.

Na frase a seguir, por exemplo, lemos "fizer alterações enquanto (o mesmo alguém) estiver off-line", certo?

"Se alguém fizer alterações em seu documento enquanto estiver off-line, você poderá sincronizar essas alterações quando se conectar novamente."

Só que ali você foi comido, porque o original diz:

"If anyone makes changes to your document while *YOU’re* offline, you can sync those changes once you come back online."

Ou seja, se alguém alterar algo enquanto “VOCÊ estiver off-line”, mas a proximidade do outro você fez com que o tradutor simplesmente comesse o sujeito relevante ali. Não, não é distração, todo dia alguém come você como não come nenhuma outra palavra.

Claro que ninguém vai morrer carbonizado, nem traumatizado, nem envenenado, nem soterrado por causa dessa informação equivocada, só vai ter um pouco mais de dificuldade em saber como funciona o produto, xingar o fabricante, o engenheiro ou, sei lá, de repente ninguém nem vai notar, só o revisor, que alguém comeu você.

sábado, 5 de março de 2011

Táubua de tiro ao álvaro (ou Cuidado, vocês estão para serem ultracorrigidos)

O exemplo mais conhecido do fenômeno linguístico chamado ultracorreção é o adonirânico “táubua de tiro ao álvaro”, pérola criada a partir desse interessante processo psicolinguístico. O racicínio é o seguinte: “se o certo é ‘xícara’, mas o povo fala ‘xicra’, se o certo é árvore, mas o povo fala ‘arvre’, então, da mesma forma, o certo é ‘álvaro’, o povo falaalvoporque come indevidamente a vogal da penúltima sílaba”.

Lembro disso porque agora mesmo vi na coluna AUTOCRÍTICA, do Globo, que evito ler prá não começar o dia me indignando, a ultracorreção de uma frase perfeita:

“...querem ver logo decididos processos que aguardavam a nomeação de Fux para ser julgados.” Melhorpara serem julgados”.

Melhor pra quem, cara? Pálida!

Não sei se é porque li desde criancinha (principalmente o nazista Monteiro Lobato), mas construções como “para serem”, “para fazerem”, “para participarem” doem nos meus ouvidos.

Sou surda pra música, mas, de raiva, parece que me tornei ultrassensível às palavras e, definitivamente, infinitivo conjugado sem necessidade me irrita.

Bem
, se a pessoa acha lindo umEles foram convidados para comparecerem, acompanharem, participarem”, bom prá ela. Mas que ninguém venha me dizer que devo acharmelhorenfiarem” desnecessariamente no infinitivo.

Prá não entrarmuito – no mérito: se o primeiro verbo foi pro plural, o infinitivo simplesmente não precisa ir também, ao contrário do que diz a regra de “concordância” evocada na coluna do jornal de hoje.


Lembro de ter perdido pontos em LQAs, LQEs, LQIs –– prá quem não sabe o que é, melhor nem saber –– e do trabalho queexplicar isso toda vez nos formulários para... reganhar o ponto perdido.

Semana passada um amigo tradutor me pediu sugestão exatamente sobre o mesmo problema: como dizer pros que acham lindo um infinitivo ememque eles não devem ultracorrigir quem não acha para não “darem” trabalho desnecessário, nem “prejudicarem”, nem "irritarem" os coleguinhas?

Como
todo mundo acredita mais no que vem escrito em papel, cito a observação final sobre esse assunto no Manual de Redação e estilo do Estado de São Paulo, da Editora Moderna:

Em caso de dúvida, siga este conselho do gramático Napoleão Mendes de Almeida: ‘Devemos limitar a flexão do infinitivo aos casos de real necessidade de identificação do seu sujeito. Não verificada essa necessidade, deixemos intacto o infinitivo’.” (p.146)

Então, na hora de convencer quem quer o "em", sugiro citar Napoleão. Duvido que algum controlador de qualidade duvide do que disse Napoleão.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Só o analfabetismo salva (considerações sobre uma conta inregular)

“Foi contastato no nosso sistema que o seu cadastro encontra-se inregular; em virtude disso pedimos que regularize-a urgentemente sua conta! Evitando bloqueio da mesma.”

A mensagem entrava direto na minha caixa postal e, como tenho medo de ficar em débito com o terra, porque o provedor prefere cortar o serviço a me avisar sobre qualquer problema, fui verificar do que se tratava.

Cliquei no link, que me levou pro site do terra, me loguei no e-mail e ele pediu prá atualizar a data de vencimento e prá definir o tipo de pagamento, cliquei emCartão de crédito”, mas fiquei com preguiça de levantar da cama prá pegar o cartão e deixei o resto para depois.

Claro
que não deixei de notar a meia dúzia de erros de redação em duas linhas, mas não cheguei a estranhar. Minha frequência às mais diversas salas de aula ao longo de 20 anos me vacinou contra qualquer estranhamento. Mas mesmo assim não deixei de ficar perturbada, achei triste que um provedor de grande porte achasse normal mandar uma mensagem com esse grau de analfabetismo.

De repente, caíram todas as fichas de uma vez: a mensagem com as cores, os links, a logo e o design do terra era de phishing, scam, spyware de “impersonificação” (esbarrei nesse termo medonho várias vezes) ou, em vernáculo, de roubo de identidade! Escrevi pro terra e tive a confirmação de que se tratava de “golpe on-line”.

Respirei por não ter inserido dados do cartão, porque alguém do provedor me respondeu (e não é que ela escreve direitinho!) e pelo fato do analfabetismo não ser de ninguém do terra.

De toda forma, ainda me pareceu assustador que uma quadrilha de gente com tantos conhecimentos de design, programação em html/php e banco de dados não tenha ninguém que saiba escrever um bilhete, nem que desconfie que a língua usada naquela mensagem é muito estranha!

Claro que sei que muito estranha e desconhecida é a língua escrita prá tanta gente no nosso país, que também nem desconfia que professores com salários de fome não têm como ajudar muito a esse respeito.

Mas, como tudo tem um lado bom, posso dizer que fui salva do golpe pela preguiça e pelo analfabetismo funcional.

ps: não sei por que aquele "Central Terra solução" me parece muito uma tradução automática, mas isso  pode ser uma ideia fixa.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O Ministério de Saúde deveria advertir que ser consumidor causa envelhecimento precoce da pele

Alguém deveria pesquisar o impacto de ser consumidor sobre a saúde do cidadão, tenho praticamente certeza de que as atividades diárias do consumidor devem matar aos poucos ou pelo menos prejudicar muito a pele.

Hoje acordei na pilha de resolver pendências enquanto o feriadão das agências de tradução me permite respirar e a primeira providência foi tentar colocar a conta de gás no débito automático, mas a moça da CEG me recomendou ligar pro banco, disse ela que cadastrar no banco seria “muito mais confiável”. a atendente do banco me disse que, como eu cancelei o débito automático em outra conta correntepouco tempo, tenho que esperar vir a próxima conta, pagar, prá depois cadastrar o débito em outra conta. Então tá, claro que o sistema não pode permitir tudo que a gente quer.

O passo seguinte consistia em tentar que o suporte técnico da Dell instalasse, ou me dissesse como instalar, um pacote do Office que comprei junto com o computador, mas que “expirou” em menos de um mês e entra em looping pedindo a chave do produto que inseri n vezes.

Depois de algumas semanas recebendo respostas do suporte supostamente técnico comoObrigado pelo seu recente contato com o Suporte Técnico Dell em 12/23/2010 (sic) 08:48:13 AM (sic)”, “Apreciamos a oportunidade de trabalhar com você para ajudar a garantir que conitnue (sic) aproveitando ao máximo seu equipamento Dell”, “Podem verificar a solicitação do cliente? O mesmo (sic) nos em cópia.”, resolvi ligar prá eles porque o computador também tinha resolvido não ligar, o que tinha acontecido outras duas vezes.

Algum tempo no telefone e a sugestão mais razoável foi a de que eu mandasse o Zino HD pelo correio pro suporte em São Paulo. Não vou contar detalhes porque demorou algumas horas entre o primeiro telefonema e a finalização com êxito do despacho (incluindo a busca pelo plástico-bolha na Voluntários, debaixo de um calorzinho de matar, o que não é culpa de nenhuma empresa). Agora é esperar prá saber em quanto tempo recebo o equipamento de volta com o Office instalado e ligando normalmente, o que talvez seja uma expectativa meio absurda.


Resolvido isso, peguei a bike e fui ao Escada Shopping tentar trocar a lente de contato do olho esquerdo, que rasgou quando usei pela terceira vez. Não, ela não é descartável (antes fosse), custou quase 900 reais e deveria durar 1 ano. Fui informada de que teria que falar com a vendedora, que tinha ido, ela trabalha das 10 às 16, e a essa altura eram quase 5 da tarde. Certo, amanhã tento de novo, mais cedo.

Bom, hoje não tenho direito a nenhum cigarro, meu ombro está com umas erupções esquisitas e o lado direito do rosto também, vou aplicar a pomadinha dermatológica e torcer prá que minhas atividades de consumidora danifiquem a pele, mas não causem impotência sexual.