terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Eu não consigo relaxar (ou Uga-buga nas traduções do jornal)

Fim de tarde de sábado no posto 12, solzinho gostoso, quando um amigo comenta: "Ai, que bom não fazer nada". Respondi que eu “adoraria não fazer nada, mas não consigo ler jornal sem revisar”.

Reconheço a neurose: assim como o menino do ônibus, que poderia estar roubando, poderia estar matando, eu poderia estar simplesmente vendo a vista, os belos espécimens que dizem que tinha por ali, mas eu tentava insistentemente ler um jornal nervoso no vento do mar.

Não lembro o que me irritava naquele momento, mas, ontem à noite, jantando uma sopinha depois de um finde de orgia alimentícia, tentava eu ler no Mundo a tradução de um texto de um ativista do Greenpeace inglês quando me deparei com o seguinte trecho:

"Enquanto isso o domínio das companhias de carvão e petróleo sobre a política americana, asseguram que os EUA não conseguirão competir. E isso nos trás o último grande jogador em Cancún - o Grande Carbono."


Empaquei. Ignorando de cara o “Isso nos trás”, total e perfeitamente inteligível, pensei: Como assim “o domínio asseguram”? Não, o domínio não asseguram nada, se fosse isso não teria uma vírgula no meio do caminho. Então seria "as companhias asseguram"? Também não pode ser, por que como as companhias de carvão e petróleo poderiam assegurar algo que é contra o interesse delas?


Claro que isso só pode ser má vontade, implicância de quem não tem mais o que fazer, todo mundo deve ler a frase e entender direitinho do que se trata, só eu preciso voltar, tentar arrumar a sintaxe prá saber quem assegura o quê.

Em vez de comer a sopinha vendo as fotos de uma revista, uma novela ou, sei lá, só comer a sopinha, a pessoa não para de revisar. Mas entender prá quê, se o que importa é que no futuro vai tudo aquecer mesmo e não vai ter mais areia da praia prá gente deitar quando enfim resolver não fazer nada? Espero que pelo menos a sopinha ainda me seja assegurada.