O exemplo mais conhecido do fenômeno linguístico chamado ultracorreção é o adonirânico “táubua de tiro ao álvaro”, pérola criada a partir desse interessante processo psicolinguístico. O racicínio é o seguinte : “se o certo é ‘xícara ’, mas o povo fala ‘xicra’, se o certo é árvore , mas o povo fala ‘arvre’, então , da mesma forma , o certo é ‘álvaro’, o povo só fala ‘alvo ’ porque come indevidamente a vogal da penúltima sílaba ”.
Lembro disso porque agora mesmo vi na coluna AUTOCRÍTICA , do Globo , que evito ler prá não começar o dia já me indignando, a ultracorreção de uma frase perfeita :
“...querem ver logo decididos processos que aguardavam só a nomeação de Fux para ser julgados.” Melhor “para serem julgados”.
Melhorpra quem , cara ? Pálida !
Melhor
Sou
Bem
Prá não entrar – muito – no mérito : se o primeiro verbo já foi pro plural , o infinitivo simplesmente não precisa ir também , ao contrário do que diz a regra de “concordância ” evocada na coluna do jornal de hoje .
Lembro de já ter perdido pontos em LQAs, LQEs, LQIs –– prá quem não sabe o que é, melhor nem saber –– e do trabalho que dá explicar isso toda vez nos formulários para... reganhar o ponto perdido.
Semana passada um amigo tradutor me pediu sugestão exatamente sobre o mesmo problema : como dizer pros que acham lindo um infinitivo em “em ” que eles não devem ultracorrigir quem não acha para não “darem” trabalho desnecessário, nem “prejudicarem”, nem "irritarem" os coleguinhas?
Como todo mundo acredita mais no que vem escrito em papel , cito a observação final sobre esse assunto no Manual de Redação e estilo do Estado de São Paulo, da Editora Moderna :
Como
“
Então, na hora de convencer quem quer o "em", sugiro citar Napoleão. Duvido que algum controlador de qualidade duvide do que disse Napoleão.